15 agosto, 2005
A história se repete
Não é possível que depois de anos eu ainda ouça a mesma coisa. Aconteceram dois eventos peculiares hoje. Preste atenção: no mesmo dia. Duas coisas similares na mesma data. É muito pra minha cabeça! Fiz um trabalho com muitas crianças. Era um catálogo e havia cerca de umas quinze crianças. Dentre elas, uma mestiça. Preste atenção! MESTIÇA. Já começaram perguntando se eu era mãe da criança. Afinal, nada mais óbvio, juntar uma "japonesinha" com a outra, não é mesmo? Vou abrir um parênteses aqui. Engraçado (ou lamentável) que no começo da semana fui fazer um outro trabalho no shopping Iguatemi. Preste atenção. Shopping Iguatemi, onde as pessoas têm mais dinheiro e consequentemente poderiam investir mais na educação de seus filhos, evitando que eles falassem barbaridades por aí em alto e bom som. O caso do shopping foi o seguinte. Tive que passar em uma loja para montar umas coisas. Cheguei com a equipe e nela havia um marceneiro japonês. De cara, as pessoas da loja perguntaram se ele era meu pai. Afinal, oriental é tudo igual, mesmo, né? Apesar de não termos traços parecidos, mas termos olhos puxados, somos considerados das mesma família. Incrível como qualquer oriental vira meu parente fácil. Ou uma amiga com olhos puxados acaba virando a minha irmã gêmea. Incrível esse tipo de associação. Seguida por comentários idiotas como: "Vocês são tão parecidas!". "Conheço um outra Sabrina que também é japonesa". Esse comentário é mais irritante ainda porque é seguido por minha explicação CLARA e sincera de que não sou japonesa, mas sim coreana. "A Sabrina Sato é sua irmã?" também é uma frase comum. What the hell? Pois é... não bastasse a associação "óbvia" de que eu realmente tinha uma ligação familiar com a MESTIÇA seguida pela minha explicação de que eu era coreana, as crianças me perguntaram em seguida: "Tia, fala uma coisa em japonês?" Entendendo que elas não ouviram a minha explicação, afirmei novamente que era coreana, mas elas insistiram: " Tia, fala alguma coisa em japonês?". "Fala cortina." Não saber não é o problema. Até explico. Agora, querer ficar não sabendo é burrice. E me irrita completamente. Por quê? Porque ouço esse tipo de coisa desde o pré. Porque isso fazia eu me sentir um ET na escola e vejo que passados mais de 20 anos, as coisas não mudaram. Passaram Olimpíadas e Copa na Coréia, a Samsung e a LG são bem presentes no Brasil e mesmo assim as coisas não mudaram. Que espécie de pergunta é essa "Fala cortina em japonês"? Minha filha, sou COREANA. Que parte da frase você não entendeu, querida? E essas perguntas? Ridículas... preconceituosas. O pior que não vem apenas das crianças. Pense que se elas pensam assim, é porque alguém na casa deles pensa assim - os adultos, os pais. Ai... que cansaso só de pensar que todos eles poderiam ter lições de geografia e história. Ouço pessoas adultas (chefes que já tive) que costumavam afirmar na minha frente que não existia diferença entre coreanos, japoneses e chineses. Afinal, todos nós temos olhos puxados mesmo, né? Somos todos iguais.
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